A relação dos queijos com as principais linhas de tendência de consumo é algo contraditória. Se para alguns grupos de consumidores há uma exclusão total ou uma aparição apenas pontual na alimentação, para outros, o queijo adquire um papel mais interessante e, acima de tudo, mais importante, seja a nível de novos momentos de consumo, seja nos momentos mais tradicionais, com a sua utilização em substituição de outros alimentos.
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Apesar do muito ruído em torno da forte adesão a estes estilos de alimentação, os seus adeptos, de acordo com as últimas estimativas das mais conceituadas consultoras a actuar no nosso país, não ultrapassam os 2% da população portuguesa, ou seja, grosso modo, cerca de 200.000 pessoas.
Dos restantes, há, logicamente, os que não gostam, os que têm algum tipo de intolerância ao seu consumo e os que apenas o ingerem quando esteja já presente em certos alimentos: pizzas, massas italianas, pratos pré-cozinhados, francesinhas e pouco mais…
Mas há muitos outros que, com uma abertura maior ou menor a diferentes paladares, diferentes texturas ou diferentes maturações, consomem regularmente queijo. Para muitos o queijo é um mero companheiro do pão ao pequeno-almoço ou ao lanche, enquanto que, para outros, o queijo está presente em muitos momentos de consumo, ingerido isoladamente ou inserido em diferentes combinações culinárias.
O consumo de queijo para alguns consumidores é feito de uma forma muito racional, com preocupações de natureza nutricional e integrado em regimes alimentares muito rigorosos.
Para outros, o queijo é um alimento indulgente e o seu consumo uma fonte de prazer. Muitos desses consumidores gostam de tipos de queijo muito distintos, gostam de consumir em simultâneo mais do que um tipo de queijo e preferem, com alguma probabilidade, a qualidade à quantidade.
Considerando as linhas de evolução que diferentes especialistas vão tipificando e fazendo algum exercício de imaginação para perceber de que forma o queijo pode (ou não) beneficiar com as mesmas, pode pensar-se que, alguns tipos de queijo (frescos, requeijões, queijos com teores de gordura mais reduzidos, queijos de cabra) são passíveis de ser integrados na alimentação mesmo dos consumidores mais exigentes no que se refere à prática de uma alimentação regrada, ‘saudável’ e com preocupações quanto ao caracter ‘orgânico’ da mesma.
Há no mercado várias referências de queijos biológicos, queijos com teores de gordura e de sal reduzidos, queijos capazes de dar alguma graça a saladas,… Há, porventura, que aumentar o leque de disponibilidade desses produtos (até porque a procura tendencialmente irá subir) e, também, ser mais vocal e assertivo na sua comunicação. Mas há, sem dúvida, mercado para queijo considerado mais ‘saudável’.
Há, depois, um conjunto de consumidores que, especialmente quando apenas consegue jantar a horas algo tardias, prefere fazer refeições mais leves que não lhes levantem demasiados problemas de digestão, considerando que se deitarão pouco tempo depois do final da refeição. Estes consumidores tendem a utilizar o queijo como o necessário apport de proteína que lhes permite fazer uma refeição leve, rápida e saborosa.
Há que considerar também o progressivo envelhecimento da população, sendo que muitos desses consumidores preferem fazer, em especial à noite, refeições mais leves e porque têm muitas vezes problemas de mastigação e/ou de digestão, vêm no queijo uma alternativa interessante para complementar os seus jantares. Uma outra vantagem está no facto de ser um produto que pode ser conservado, sem problemas, por alguns dias e que pode ser consumido na justa medida da vontade e da necessidade, o que pode não acontecer com outros produtos frescos, como a carne ou o peixe, que, para além disso, exigem preparação e tempo.
As refeições em trânsito ou em locais mais inusitados, como a secretária no escritório ou o banco de jardim, convidam também ao consumo do queijo, por ser um produto relativamente simples de transportar e que funciona como uma alternativa a outras fontes de proteína. Apesar de tudo, se consideradas as unidoses pré-embaladas como a forma de dar melhor resposta às necessidades destes mercados, a oferta é relativamente escassa e pode criar-se aqui uma boa oportunidade para o lançamento de novos produtos.
Mas é também fora-de-casa que as alterações dos hábitos alimentares podem ter consequências positivas na utilização e consumo do queijo. E isso pode ser visto em vários ângulos.
Por exemplo, com a proliferação de espaços de comida saudável ou com a presença mais constante (e ainda mais frequente nos meses de Primavera e Verão) de saladas nos menus dos restaurantes mais convencionais, multiplica-se a possibilidade de incorporação de queijos frescos e requeijões, dos queijos mais light ou de queijos mais sápidos mas percebidos como adequados a este tipo de oferta, como é o caso dos queijos de cabra.
Também com a crescente utilização de queijo na preparação de iguarias numa restauração mais elaborada e que cria vias alternativas à cozinha portuguesa mais tradicional, com alguns dos mais conceituados chefs da nova geração a demonstrarem um novo potencial para o queijo nas melhores cartas.
Igualmente com a multiplicação do conceito dos restaurantes de tapas e petiscos, de alguma forma em linha com os hábitos de consumo da vizinha Espanha, embora com um toque nacional em muitas das propostas apresentadas. Aqui, as tábuas de queijos e as tapas/petiscos de queijo e com queijo são muito frequentes.
Mas é também cada vez mais usual, a presença das tábuas de queijo, seja como entrada, seja como sobremesa, nos nossos melhores restaurantes. Nalguns casos, essa presença é essencialmente simbólica, mas noutros há um claro empenho em propor essa opção ao cliente.
Finalmente, no que me parece ser a mais efectiva das alterações de hábitos alimentares, está a ‘institucionalização’ do fim-de-tarde como momento de consumo. Um momento muito marcado nos meses dos dias mais longos e mais quentes, que convidam a permanecer no exterior e a aproveitar esse tempo de relaxamento e convivência. E aqui, as tábuas e petiscos de queijo são uma opção muito interessante, até pela possibilidade de combinação com as melhores bebidas (vinho, porto, cerveja, gin ou outras bebidas espirituosas).
Em todo este movimento, não pode ser esquecida a importância do turismo, seja por, em muitos casos ter sido o elemento propulsor de novos projectos na área da restauração, seja por serem um mercado apetitoso, mas que deve ser trabalhado de forma adequada e não no que de mais vulgar se associa quando pensamos em ‘para turista’. E aqui, vale a pena repetir o que já foi referido atrás… muitos dos que nos visitam querem conhecer e experimentar aquilo que é genuinamente português (gastronomia, vinhos, queijos…) e não repetir cá aquilo que poderiam provar em qualquer outro local do mundo ocidental.
Continua...
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