Portugal tem uma longa tradição na produção de queijo, mas essa tradição estende-se ou não ao seu consumo? E não obstante essa tradição, Portugal pode ser efectivamente considerado um ‘país-do-queijo’?
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Mas há igualmente várias contraindicações: desde logo, os nossos queijos (ainda) não possuem um verdadeiro reconhecimento internacional. Depois, os nossos principais queijos agrupam-se num conjunto não muito alargado de ‘famílias’. Uma grande fatia de consumidores não tem hábitos de consumo para lá dos queijos mais básicos utilizados ao pequeno-almoço ou ao lanche.
Para além disso, os queijos praticamente não estão presentes na mais icónica gastronomia e doçaria nacionais; quase não existe formação especializada na produção, mas também na degustação, na apresentação ou na utilização culinária do queijo; há uma escassa presença do queijo (e pouca educação para a sua recomendação) na nossa restauração e hotelaria. Muitos consumidores afastam-se do seu consumo por algum estigma nutricional. São muito raros aqueles que podemos facilmente identificar como assumidos embaixadores do queijo... Para além disso, o viajar pelo mundo mostra-nos o forte desconhecimento que mesmo os mais conhecedores apresentam relativamente aos mais emblemáticos queijos nacionais.
Parece, pois, fácil de concluir que Portugal, apesar de alguns excelentes queijos, não ascendeu ainda à Liga dos Campeões do queijo e há, por isso mesmo, ainda muito a fazer para que possamos falar do florescimento de uma verdadeira ‘Cultura-do-Queijo’ no nosso país!
Mas as coisas estão a mudar...
Sem a pretensão de fazer qualquer artigo científico, trabalho de referência ou livro de estilo, tentaremos, ao correr da pena, debruçar-nos sobre as áreas mais relevantes para a construção dessa ‘Cultura-do Queijo’.
Seja sobre a sua produção e comercialização, seja sobre a logística e a conservação, seja sobre a sua comunicação. Seja também sobre a forma como o queijo é ou pode vir a ser trabalhado na moderna distribuição, nas lojas especializadas, no comércio electrónico ou na restauração e hotelaria.
Daremos atenção às questões, dificuldades e benefícios, da interacção entre queijos e saúde e também à forma como ele se insere nos novos hábitos de consumo e nos novos nichos de consumidores. Tentaremos, acima de tudo, em sucessivos textos curtos, partilhar as impressões, preocupações e excitações de quem de há muito está ligado ao mundo dos queijos.
Partilhar algumas das ideias que fomos consolidando ao longo destes mais de seis anos da aventura DosQueijos, do contacto permanente e simultâneo com mais de uma vintena de produtores nacionais e com dezenas e dezenas de clientes dos mais diferentes perfis, posicionamentos e dimensões e da interacção directa com muitos, mesmo muitos, consumidores.
Para além de trabalharmos profissionalmente com queijo, consideramo-nos verdadeiros apreciadores que tentam também ser conhecedores: queijófilos na verdadeira acepção da palavra.
Alguém que nunca deixa de tentar que os clientes escolham e utilizem os queijos com que trabalhamos, mas que não cessa de procurar novos queijos nacionais que se enquadrem na nossa filosofia de trabalho e que complementem o portfolio DosQueijos. E que, para além disso, gosta sempre de provar e apreciar todos os bons queijos – portugueses ou estrangeiros – porque este é um universo infindável em que há sempre mais um queijo que ainda não vimos, não tocamos, não cheiramos, nem provamos.
Continua...!
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